CBF Libera Áudios VAR: São Paulo Força Mudança Histórica na Arbitragem Brasileira

O cenário do futebol brasileiro presenciou um movimento significativo em direção à transparência arbitral. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou, nesta quarta-feira, a obtenção de uma autorização da FIFA que permite a divulgação de registros sonoros e visuais das decisões da equipe de arbitragem, mesmo em lances cruciais que não passaram por revisão na cabine do VAR, os chamados "lances sem revisão protocolar". Esta medida surge em resposta a uma forte pressão, notadamente do São Paulo Futebol Clube, que se sentiu gravemente prejudicado na recente derrota por 3 a 2 para o Palmeiras, válida pelo Campeonato Brasileiro.

A entidade máxima do futebol nacional informou que os áudios e vídeos referentes a esses momentos de jogo, antes inacessíveis ao público, estarão disponíveis em até 24 horas após o término das partidas, seguindo as diretrizes técnicas e operacionais estabelecidas em acordo com a FIFA. Embora a diretoria são-paulina já tenha tido acesso a esses diálogos em uma sessão privada, a CBF não confirmou se a nova regra terá aplicação retroativa, o que permitiria a exposição pública das conversas de jogos passados, incluindo o clássico em questão.

A Reação do São Paulo e os Lances Controvertidos

A indignação do São Paulo foi o catalisador para esta mudança. Em uma reunião virtual na segunda-feira, após os protestos veementes do clube, dirigentes tricolores confrontaram a cúpula da Comissão Nacional de Arbitragem. Durante este encontro, foi possível escutar fragmentos da comunicação entre o árbitro de campo, Ramon Abatti Abel, e o responsável pelo VAR, Ilbert Estevam da Silva, em lances cruciais que geraram a revolta são-paulina.

Um dos episódios mais contestados foi o lance envolvendo Allan e Tapia, dentro da área. Segundo relatos, a decisão inicial de Ramon Abatti Abel foi peremptória:

Escorregão, escorregão! Não tem bola em disputa

Posteriormente, a equipe do VAR, após breve deliberação, optou por validar a decisão de campo, abstendo-se de recomendar uma revisão. Esta postura foi alvo de severas críticas por parte do São Paulo, e a própria Comissão Nacional de Arbitragem teria reconhecido o equívoco, resultando no afastamento dos profissionais para um período de reciclagem.

Outro momento de grande controvérsia ocorreu na jogada em que o Tricolor pleiteou a expulsão de Andreas Pereira, após uma entrada em Marcos Antônio. Na ocasião, o árbitro Ramon aplicou apenas um cartão amarelo, justificou sua decisão e, mais uma vez, não foi acionado pelo VAR para uma revisão. O São Paulo , em sua manifestação, exigia a divulgação pública dos áudios relativos a cinco lances considerados polêmicos.

Transparência e Integridade: O Discurso da CBF

Samir Xaud, presidente da CBF, enfatizou o compromisso da gestão com a resolução de problemas estruturais do futebol nacional. "Desde o início da nossa gestão estamos atuando em problemas estruturais do futebol brasileiro, mexendo em questões que havia décadas demandavam mudanças. Já anunciamos o novo calendário do futebol masculino, estamos finalizando o do feminino e no mês que vem vamos divulgar as regras do fair play financeiro. A arbitragem está entre essas prioridades. Ampliamos agora a divulgação dos áudios, em nome da transparência. Vamos anunciar outras melhorias nas próximas semanas, integrando um plano de ação que já vem sendo elaborado desde que assumimos a CBF", declarou Xaud.

Rodrigo Cintra, presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, detalhou o processo de consulta à FIFA. "Sempre consultamos a FIFA em questões que fogem à rotina: regras, resoluções, protocolos ou determinações da própria IFAB/FIFA. Nessa consulta argumentamos que apresentar as checagens de grande impacto, mesmo sem ida do árbitro à cabine, reforçaria a integridade de nossas competições. Recebemos a liberação, para fins de instrução e transparência", esclareceu Cintra.

Consequências e Expectativas Futuras

Apesar de não haver um veto explícito ao nome de Ramon Abatti Abel para futuras escalações, o São Paulo expressou a expectativa de que a CBF demonstre sensatez e evite designar o profissional para apitar seus jogos. A medida de divulgar os áudios, portanto, representa um avanço significativo na busca por maior clareza e accountability no processo arbitral, um anseio antigo de clubes e torcedores. Resta acompanhar se esta nova política trará a prometida integridade e minimizará as controvérsias que tanto afetam a credibilidade do esporte.