Hernán Crespo Jogador: Análise de Especialistas Sobre Sua Posição no Futebol Atual

A recente coletiva de imprensa do técnico Hernán Crespo, sucedendo a vitória do São Paulo por 1 a 0 sobre o Botafogo no Morumbis, trouxe à tona uma reflexão sobre seu ilustre passado como jogador. Questionado sobre sua influência no desenvolvimento dos centroavantes do elenco, como Dinenno, o argentino não hesitou em evocar suas próprias experiências.

?Não posso esquecer do que me passaram, devo pensar no meu passado para ajudar eles. Algumas coisas aprendi e passo para eles, mas sou muito contente pelo que eles estão fazendo?, afirmou Crespo, evidenciando a conexão entre sua trajetória como atleta e sua atual função de comandante técnico.

Antes de assumir o banco de reservas, o argentino de 50 anos brilhou intensamente como atacante, conquistando títulos expressivos e defendendo as cores de renomados clubes europeus. Essa carreira de destaque levanta uma questão intrigante para os analistas do futebol: no auge de sua forma física e técnica, Hernán Crespo teria lugar garantido como titular em qualquer time da atual Série A do Campeonato Brasileiro, e por extensão, no cenário nacional?

O Legado de um Artilheiro: Crespo no Debate Atual

A resposta de comentaristas especializados inclina-se para uma afirmação categórica. Caio Ribeiro, por exemplo, não poupa elogios ao perfil do ex-atacante. ?Eu acho que ele seria titular de todos. Se você for analisar, ele era um cara com muita presença de área. Era um centroavante inteligente, muito técnico, mas era acima de tudo um artilheiro. Um cara que dificilmente perdia gols. Um cara com uma carreira brilhante. Por todos os lugares por onde passou, deixou a marca dele, foi protagonista?, opinou Ribeiro.

A análise de Caio Ribeiro é contundente: ?Então, eu acredito que sim. Que seria titular em todos os times no Brasil?. Essa perspectiva é corroborada pela trajetória de Crespo, que se equipara à de grandes nomes do ataque brasileiro, mesmo sem ter atuado em solo nacional. Para além da mera projeção, os números de sua carreira são um testemunho irrefutável de sua capacidade.

A Performance Numérica de Um Gênio da Grande Área

Hernán Crespo acumulou 328 gols em 686 partidas disputadas. Sua relevância se estende à seleção argentina, onde figura como o quarto maior artilheiro, com 35 gols, superado apenas por Agüero, Batistuta e Messi. Em um exercício comparativo, se Crespo tivesse defendido a seleção brasileira, seus 35 gols o colocariam na sétima posição histórica, empatado com lendas como Rivaldo e Jairzinho, atrás apenas de Bebeto, Zico, Romário, Ronaldo, Pelé e Neymar.

Para ilustrar a dimensão de seus feitos, considere os dados:

O Perfil Tático: Inteligência e Versatilidade no Ataque

Desvendando as características que tornavam Crespo um atacante tão especial, Alexandre Lozetti oferece uma perspectiva detalhada sobre seu estilo de jogo. ?Foi um centroavante espetacular, da elite europeia em sua época. Um atacante de iniciativa, que tinha o controle dos movimentos, atacava a linha defensiva e também a bola, por isso fez gols com imenso repertório de finalizações, inclusive alguns malabarismos incrivelmente bem executados?, descreve Lozetti.

Lozetti ainda ressalta um aspecto curioso de sua carreira: ?Seu maior senão foi ter sido contemporâneo de outro gênio da área, Gabriel Batistuta. Poucos técnicos estavam dispostos a juntá-los na seleção argentina. No episódio mais famoso, Marcelo Bielsa, na Copa do Mundo de 2002, não cedeu aos pedidos pela dupla e priorizou Batistuta, deixando Crespo no banco - a Argentina só fez dois gols no torneio, um de cada um?. Apesar dessa concorrência de alto nível, a projeção de Lozetti para o cenário atual é igualmente otimista. ?Treinado como um jogador do futebol atual, Crespo, aliando isso às qualidades que teve, seria titular de todos os times do futebol brasileiro. E de muitos grandes times europeus. E da seleção brasileira. E da seleção argentina. Ele era, realmente, diferente?, conclui.

Legado e Influência: Do Campo ao Banco de Reservas

Sérgio Xavier Filho aprofunda-se nas qualidades intrínsecas de Crespo como jogador. ?O que ele tinha de mais forte? Bom, primeiro, o posicionamento. Eu acho que isso era, se tivesse que eleger uma qualidade, é o cara inteligente para achar o espaço dele em cada lugar que ele estivesse no campo, principalmente na área. A outra característica é a capacidade de improvisação, porque quando você tem uma boa capacidade nas duas pernas, isso te ajuda muito, né??, analisa o comentarista.

Xavier Filho desmistifica uma percepção comum: ?Ele era destro. Eu já ouvi ele dizendo que ele era ambidestro, mas não era, ele era destro. Mas tinha uma ótima canhota. Então, com essa canhota, ele conseguia, para qualquer lado que ele girasse, estava bom para ele, porque ele ia conseguir a finalização e, obviamente, a cabeçada?. Essa versatilidade com ambos os pés, aliada à sua inteligência tática, é vista como um pilar para seu sucesso atual. ?Acho que o fato de ele ter virado um ótimo técnico de futebol tem a ver com a inteligência que ele tinha em campo, que nesse somatório todo, eu acho foi o que fez com que o Crespo tenha feito história como craque argentino?, completa.

Para se ter uma dimensão do impacto de Crespo em sua juventude, basta comparar seu desempenho com o de um artilheiro atual. Aos 23 anos, na temporada 1998/1999, Crespo marcou 28 gols em 45 jogos pelo Parma, na Itália. Em contraste, Kaio Jorge, atacante do Cruzeiro e atual artilheiro do Campeonato Brasileiro, com a mesma idade, soma 15 gols na competição e 20 em 34 jogos na temporada. A diferença ilustra a precocidade e a consistência do talento do argentino.

Cria do River Plate, Hernán Crespo construiu uma carreira vitoriosa na Europa, passando por clubes como Parma, Lazio, Inter de Milão, Genoa e Milan na Itália, além do Chelsea na Inglaterra. Sua jornada inclui a participação em três Copas do Mundo pela seleção argentina e a conquista de 15 títulos como jogador, entre eles uma Libertadores, uma Liga Europa, duas edições do Campeonato Argentino, uma Premier League, uma Supercopa da Inglaterra, três Campeonatos Italianos, cinco Supercopas da Itália e uma Taça da Itália. Um currículo que, sem dúvida, o consagra como um dos grandes nomes da história do futebol.