Hernán Crespo no São Paulo: Legado, Retorno e as Expectativas do Tricolor

A notícia do retorno de Hernán Crespo ao comando técnico do São Paulo ecoa como um reencontro significativo para a torcida tricolor. O argentino, que já gravou seu nome na história do clube ao conquistar o Campeonato Paulista de 2021, retorna ao Morumbis com a missão de reescrever um capítulo de sucesso, buscando novas glórias e consolidando sua posição como uma figura central na trajetória recente da equipe. Aos 49 anos, prestes a completar meio século de vida em julho, o ex-atacante da seleção argentina ostenta um currículo invejável. Sua trajetória como jogador inclui a participação em três edições da Copa do Mundo, a autoria de gols decisivos em finais de Conmebol Libertadores e Liga dos Campeões da Europa, solidificando sua reputação como um dos mais proeminentes centroavantes de sua geração. A profundidade de sua experiência, tanto dentro quanto fora dos gramados, confere uma dimensão única à sua liderança.

A Trajetória Vencedora de um Comandante Consolidado

A jornada de Crespo como treinador começou nas categorias de base do Parma em 2015, seguindo para o Modena, também na Itália, no ano subsequente. Em 2019, sua carreira o levou ao Banfield, na Argentina, mas foi em 2020, no Defensa y Justicia, que sua capacidade gerencial ganhou destaque. Ali, ele conduziu a equipe a um título invicto da Copa Sul-Americana de 2020, um feito notável com seis vitórias e três empates, que encerrou um jejum de 23 anos do clube por troféus continentais. Essa conquista catapultou Crespo para o cenário internacional, culminando em sua primeira passagem pelo São Paulo em 2021. Em menos de um ano no clube, ele conquistou o Campeonato Paulista, mas sua gestão foi interrompida por um desempenho inicial insatisfatório no Campeonato Brasileiro. Seu registro na primeira passagem foi de 53 jogos, com 24 vitórias, 19 empates e 10 derrotas, resultando em um aproveitamento de 57,23%. Após sua saída do Tricolor, o técnico acumulou mais êxitos, vencendo três títulos com o Al-Duhail, do Catar, e uma Liga dos Campeões da Ásia pelo Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos.

As coisas foram bem. Funcionaram. Estou feliz pelo meu passado. É muito difícil explicar. Me dá muita vergonha, também (risos). Mas aconteceu. Os títulos chegaram. Títulos importantes no Catar, o triplete. A classificação para sairmos campeões da Champions Asiática. Realmente incrível. E todo esse caminho também me trouxe ao São Paulo.

Essa declaração, carregada de humildade e satisfação, reflete a maturidade e o sucesso que Crespo consolidou em sua carreira pós-São Paulo, experiências que, sem dúvida, o tornam um profissional ainda mais preparado para os desafios que o aguardam no Morumbi.

O Legado de um Artilheiro: Gols e Conquistas Marcantes

Nascido em Florida, a cerca de 15 quilômetros de Buenos Aires, Crespo nutria uma paixão de infância pelo San Lorenzo, clube que quase o contratou em 2021, logo após sua saída do São Paulo . Sua devoção ao futebol, no entanto, o conduziu ao River Plate, onde iniciou sua carreira profissional de 1994 a 1996, marcando 36 gols em 82 partidas. Nesse período, conquistou o bicampeonato do Apertura (1993 e 1994) e a prestigiada Conmebol Libertadores de 1996. Aos 20 anos, Crespo foi o artilheiro do River Plate na campanha da Libertadores de 1996, com dez gols, sendo o segundo maior goleador da competição. Na final contra o América de Cali, após a derrota por 1 a 0 no primeiro jogo, o atacante brilhou no Monumental de Núñez, marcando os dois gols que garantiram o título continental.

A carreira de Crespo na Europa foi extensa e repleta de troféus. Sua primeira incursão na Itália foi com o Parma, onde, impulsionado por investimentos da Parmalat, conquistou a Coppa Italia, a Copa Uefa e a Supercopa da Itália. Em 2000, transferiu-se para a Lazio, adicionando mais uma Supercopa à sua coleção. Duas temporadas depois, o desafio foi na Inter de Milão, onde jogou sem conquistar títulos, antes de ser vendido ao Chelsea, da Inglaterra.

A passagem por Londres não foi das mais brilhantes, mas seu retorno à Itália, para jogar no Milan de Carlo Ancelotti, foi marcado por dois gols na histórica final da Liga dos Campeões de 2005, embora o Liverpool tenha emergido campeão. Posteriormente, voltou ao Chelsea para conquistar uma Supercopa e o título da Premier League em 2005/2006 sob o comando de José Mourinho. De volta à Inter, Crespo adicionou mais cinco títulos, incluindo três campeonatos italianos consecutivos, antes de encerrar sua carreira por Genoa e, novamente, Parma.

A Seleção Argentina e as Conexões Tricolores

Crespo representou a Argentina em diversas competições de destaque. Foi medalha de prata nas Olimpíadas de 1996, em Atlanta, onde foi artilheiro com seis gols, ao lado do brasileiro Bebeto. Na seleção principal, estreou em Copas do Mundo em 1998, na França. Em 2002, na Coreia do Sul e no Japão, marcou seu primeiro gol em Mundiais, e em 2006, na Alemanha, foi vice-artilheiro com três gols. Em 2007, foi vice-campeão da Copa América contra o Brasil. Com 35 gols em 64 partidas, Crespo é o quarto maior artilheiro da história da seleção argentina, atrás de Messi, Batistuta e Agüero.

Sua carreira como jogador o conectou a lendas do São Paulo , como Cafu, Kaká e Serginho, com quem dividiu o vestiário no Milan, inclusive na final da Liga dos Campeões de 2005. Na Itália, também formou duplas de ataque memoráveis com Amoroso, no Parma, e Adriano Imperador, na Inter. Em 2021, sua apresentação no São Paulo contou com a calorosa recepção de Kaká no Morumbis, um momento de grande simbolismo.

Foi uma surpresa bonita. Me mandou mensagem, não esperava encontrá-lo, e ver um amigo é lindo. Estamos falando de uma lenda do futebol mundial, não só do São Paulo. Tê-lo perto é fantástico.

Como jogador, Crespo atuou no Morumbis em apenas uma ocasião: em 26 de julho de 2000, na derrota da seleção argentina para o Brasil por 3 a 1, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. Naquele jogo, o centroavante deu a assistência para o gol argentino, marcado por Almeyda.

A Filosofia de um Mestre e a Vida Pessoal

Hernán Crespo teve a oportunidade de trabalhar com alguns dos mais renomados e vitoriosos treinadores do futebol mundial, o que moldou sua própria filosofia de comando. Entre seus mentores, destacam-se nomes como Daniel Passarella, Ramón Díaz, Carlo Ancelotti, Sven-Göran Eriksson, Dino Zoff, Héctor Cúper, Claudio Ranieri, Roberto Mancini, José Mourinho, Marcelo Bielsa, Jose Pekerman e Alfio Basile.

Em sua apresentação mais recente, Crespo fez questão de exaltar a influência de Carlo Ancelotti, hoje técnico da seleção brasileira, como um exemplo a ser seguido em termos de gestão de pessoas.

Ancelotti me ensinou que ao final somos pessoas, como todos. E que todos têm coisas boas e ruins. E importante é relacionar, esse é o caminho. Entendendo a personalidade de cada um. Não vou ser Carlo, Bielsa... Tratarei de fazer o melhor possível, mas seguramente sem imitar ninguém. Porque a imitação tem vida curta. Cada um é como é e como crê que pode ser. Com erros e virtudes, porque do outro lado também tem erros e virtudes. E Carlo é exemplar.

Esta perspectiva demonstra a maturidade de um técnico que busca construir sua própria identidade, valorizando a humanidade e a individualidade de seus atletas.

Com tantos anos vividos na Itália, Crespo mantém uma forte ligação com o país europeu, onde residem suas três filhas: Nicole (20 anos), Sofía (18) e Martina (9), frutos de seu casamento com a modelo italiana Alessia Rossi, de quem se separou em 2019. Em 2021, suas filhas visitaram o pai no Brasil e tiveram a oportunidade de conhecer o CT da Barra Funda, reforçando os laços familiares que o acompanham em sua jornada profissional.

A comissão técnica de Crespo para esta nova fase no São Paulo contará com dois retornos e três novas incorporações, sinalizando uma reestruturação e a busca por novas dinâmicas. Além disso, a valorização das categorias de base de Cotia é um ponto de atenção, com diversas opções de jovens talentos prontos para serem integrados ao elenco principal sob a tutela do novo treinador.

Hernán Crespo não é apenas um técnico que retorna; ele é um símbolo de conquistas e uma promessa de renovação. Sua história, rica em experiências como jogador e treinador, aliada à sua filosofia de trabalho e à paixão demonstrada pela instituição, o posiciona como uma figura chave para o futuro do São Paulo . A torcida tricolor, que já celebrou um título sob seu comando, agora deposita novamente suas esperanças em um líder que compreende a grandiosidade e a responsabilidade de vestir as cores do clube.