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Mounjaro no São Paulo: Entenda a Polêmica e a Saída do Médico
Por Redação 1Soberano em 16/12/2025 14:20
A Ruptura no Morumbi: Saída do Médico e a Sombra do Mounjaro
O São Paulo Futebol Clube encerrou sua colaboração com o médico Eduardo Rauen, uma decisão que reverberou intensamente no ambiente do Morumbi. Essa ruptura, concretizada na última terça-feira, abrangeu todo o departamento do Tecfut no CT da Barra Funda, incluindo equipamentos e uma equipe de outros profissionais que atuavam semanalmente.
O pano de fundo dessa drástica medida é a controvérsia envolvendo a indicação e o fornecimento do medicamento Mounjaro a atletas do clube. A medicação, cuja comercialização por pessoas físicas é vedada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi objeto de uma investigação que revelou indícios alarmantes de irregularidade.
A apuração jornalística desvendou que o responsável pela distribuição do Mounjaro, indicado pelo próprio médico do São Paulo , operava sem a devida permissão da Anvisa para tal comércio. A situação levantou sérias questões sobre os protocolos internos e a supervisão das aquisições de substâncias medicamentosas no clube.
Bastidores da Ilegalidade: A Investigação do Fornecedor Clandestino
A reportagem, ao simular a aquisição do produto, expôs um intrincado esquema. O contato com o fornecedor foi estabelecido, e as múltiplas confirmações da recomendação aos jogadores foram obtidas. Ao cotar o medicamento, o preço estipulado via Pix, R$ 5.599, superava consideravelmente os valores de mercado, e a informação de que o remédio era importado, prática não autorizada pela Anvisa, veio à tona.
O processo de compra simulada avançou até a etapa final, com a reportagem realizando uma encomenda. Curiosamente, em nenhum momento foi solicitada receita médica ou qualquer menção a ela, e a entrega seria imediata, com um motoboy já aguardando. Durante a interação, o vendedor chegou a alegar que fornecia o medicamento também a membros da diretoria do São Paulo e a filha de um deles.
Confrontado com a identidade jornalística do interlocutor, o discurso do vendedor sofreu uma reviravolta abrupta. Ele passou a desmentir todas as informações previamente fornecidas, afirmando que sabia desde o início que estava sendo "vítima de armação". A nova versão apresentada foi a de que não comercializava o Mounjaro, mas apenas havia trazido algumas unidades do exterior como um favor a um amigo.
Aprofundando a investigação, foi possível identificar o verdadeiro recebedor dos pagamentos realizados no São Paulo . Embora se apresentasse aos atletas como "Allan Mounjaro", o indivíduo é Altemir Bernardes, um homem de 51 anos. Mensagens enviadas por Bernardes aos jogadores incluíam termos como "promoção" e "últimas unidades", e ele até possuía um vídeo promocional detalhando dosagens e a duração das canetas.
O Veredito da Anvisa e a Defesa do Nutrólogo
Diante da consulta sobre a legalidade da atuação de Bernardes na comercialização do Mounjaro importado, a Anvisa foi categórica em sua resposta, conforme a citação:
"qualquer forma de comércio de medicamentos por pessoas físicas está irregular. No Brasil, medicamentos só podem ser vendidos em farmácias ou drogarias regularizadas na vigilância sanitária. Portanto, qualquer medicamento comprado fora de farmácia está irregular e não possui garantias de qualidade, composição e condições de conservação."
O médico Eduardo Rauen, por sua vez, emitiu um comunicado à reportagem. Nele, o nutrólogo defendeu sua conduta, afirmando:
"Minha atuação se limita à avaliação clínica, diagnóstico e tratamento. Já me manifestei publicamente acerca do medicamento Mounjaro, com o objetivo de informar e esclarecer a situação clínica e a natureza estritamente médica da indicação. Demais informações de cunho médico somente podem ser prestadas dentro dos limites éticos e legais, respeitando o dever de sigilo profissional."
O São Paulo Futebol Clube, por sua vez, declarou não ter conhecimento prévio da origem do medicamento e prontamente iniciou uma investigação interna para apurar os fatos. A nota oficial do clube, divulgada em 12 de outubro, confirmou a aplicação do Mounjaro em dois atletas do elenco profissional, mas ressaltou que a prescrição ocorreu de forma "individualizada" e "criteriosa". Rauen havia afirmado anteriormente, na última sexta-feira, que a recomendação do remédio, uma caneta injetável contendo tirzepatida (princípio ativo da Eli Lilly), era baseada em estudos clínicos e acompanhamento individualizado. Inicialmente para diabetes tipo 2, o Mounjaro foi recentemente aprovado pela Anvisa para obesidade e sobrepeso, exigindo prescrição e indicação formal.
Tensão nos Bastidores: O Desconforto de Crespo e a Divisão Interna
Os desdobramentos da situação não se limitaram aos aspectos legais e administrativos. Fontes ligadas ao futebol relataram que a questão do Mounjaro já havia chegado ao conhecimento do então técnico Hernán Crespo em outubro, gerando considerável desconforto. Em uma conversa com o treinador, Rauen assumiu a responsabilidade pela prescrição do medicamento.
Profissionais que atuaram ao lado de Crespo, assim como integrantes do departamento médico, revelaram que a decisão de prescrever a medicação a dois jogadores foi tomada sem uma comunicação abrangente aos demais setores de saúde do clube. Essa falta de alinhamento teria provocado tensões significativas entre os membros da equipe e desencadeado discordâncias em relação aos protocolos estabelecidos. A complexidade do caso revela não apenas a questão da legalidade do fornecimento, mas também fissuras na comunicação e na gestão interna do departamento de saúde do Tricolor.
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