Crespo Blinda Joias de Cotia: O Futuro do São Paulo em Debate

Em um cenário de desgaste físico e resultados aquém do esperado, a recente vitória do São Paulo sobre o Juventude, ainda que marcada por uma performance discreta, trouxe um sopro de renovação. O triunfo por 3 a 1, alcançado na Vila Belmiro, teve a participação decisiva de jovens promessas que ascenderam do banco de reservas, como Marcos Antônio e Lucca, reacendendo a chama da esperança em um torcedor tricolor já exausto.

No entanto, a euforia em torno desses talentos emergentes foi rapidamente temperada pela perspicácia do técnico Hernán Crespo. Em sua coletiva pós-jogo, o treinador argentino, embora reconhecendo o valor dos atletas da base, fez questão de ressaltar que a inserção desses jogadores deve ocorrer sem o peso da responsabilidade de substituir ícones do clube ou de carregar o time nas costas.

A Visão de Crespo: Liberdade Acima da Pressão

A filosofia de Crespo para os jovens é clara: protegê-los da pressão excessiva. O técnico enfatizou que o papel dos recém-chegados não é o de preencher lacunas deixadas por nomes de peso, mas sim o de contribuir com a leveza e a audácia inerentes à juventude. "Eles não têm de assumir nada. Eles têm de jogar livremente porque são jovens", pontuou Crespo, estabelecendo um limite salutar entre a oportunidade e a sobrecarga.

"Eles não têm de assumir nada. Eles têm de jogar livremente porque são jovens", enfatizou Crespo. "E tentar ajudar. E, talvez com a esperança de serem protagonistas. Não podemos pensar no menino em seu primeiro ano vá ser titular e vá ter de jogar com o peso e a responsabilidade de um grande time como o São Paulo. Eles têm de ser livres."

Ainda sobre o tema, Crespo aprofundou sua perspectiva, destacando a necessidade de construir um alicerce sólido para que esses atletas possam prosperar. A ideia é fornecer a estrutura para que demonstrem seu potencial, sem, contudo, lhes atribuir o fardo de ser o protagonista imediato. "Temos de criar uma estrutura sólida, uma base sólida para entregar a eles a oportunidade para poder demostrar aquilo que podem fazer. Mas dar a responsabilidade de ser a camisa 10 do São Paulo e titular? Não, não. Podem jogar? Sim, é claro que podem jogar", argumentou o treinador, referindo-se a um grupo que incluiu Lucca, Paulinho, Maik, Negrucci e Marcos Antônio , todos recentemente no Sub-20. "Acho que é um pouco cedo para dar a eles essa responsabilidade."

Foto: ( Marcello Zambrana/AGIF)

O Contexto da Temporada e a Necessidade de Cotia

A utilização dos jovens de Cotia, mais do que um desejo da torcida, tornou-se uma imperativa necessidade para o São Paulo , que enfrentou uma série de desfalques por lesões ao longo da temporada. Crespo não escondeu o desgaste e a frustração com o andamento do ano, admitindo que a equipe não conseguiu corresponder aos planos iniciais. A chegada do treinador, segundo ele, ocorreu em um período de extrema complexidade para o clube.

Com o Campeonato Brasileiro como única frente de disputa, restam apenas três compromissos para o São Paulo encerrar a temporada. A equipe buscará um fôlego final para, quem sabe, alcançar uma improvável vaga na próxima edição da Libertadores, um objetivo que depende de uma combinação de resultados favoráveis.

Os Últimos Desafios e a Resposta do Treinador

Questionado sobre o planejamento para a reta final, a resposta de Crespo foi direta e reveladora do esgotamento enfrentado. "Só ser o melhor possível", afirmou, antes mesmo que a pergunta fosse plenamente formulada. "Vamos tentar fazer o melhor possível. Quando acabar a temporada, vamos ver o que fizemos. Muito difícil. Tudo aquilo que foi programado, quando a gente não estava, não aconteceu durante a temporada. Chegamos aqui num momento muito difícil, complicado."

A insatisfação com a performance do time não se restringiu ao campo. Após a derrota para o Corinthians, o torcedor tricolor fez valer seu direito de protesto, direcionando cânticos e gritos ao presidente Julio Casares antes e durante a partida na Vila Belmiro. Crespo, com a serenidade de quem entende o lado da arquibancada, comentou a manifestação popular.

Os próximos jogos do São Paulo no Brasileirão:

O Respeito à Torcida e o Limite do Elenco

"Muito respeito pelo torcedor", analisou Crespo. "Ele tem de falar aquilo que sente e a gente tem de aceitar. Neste momento, não pudemos produzir nada. Tudo aquilo que temos no corpo, deixamos ali. É final de temporada. Acho que é o jogo 63. Faltam três jogos. Estamos assim", disse o treinador, gesticulando em um sinal de esgotamento, passando a mão na cabeça.

A conclusão de Crespo resumiu o espírito de um time que, apesar das adversidades, promete entregar o que resta de sua energia. "Se chega como se chega. Vamos tentar fazer o melhor possível. Recarregar? Impossível. O que temos, vamos deixar lá dentro (de campo). Muito ou pouco o que temos? Não sei. O que temos, vamos deixar dentro do campo", finalizou, demonstrando a resignação e a determinação que marcam o desfecho de uma temporada atípica para o São Paulo .